terça-feira, 11 de março de 2014

E o meu direito à educação? Cadê? Qual é de fato a responsabilidade da sociedade enquanto cidadã(o)?




Creches: Direito das Crianças 
e Autonomia para as Mulheres

E o meu direito à educação? Cadê?

Diário Oficial do Município, nº 6.031, de 04 de Fevereiro de 2014, anuncia: Terrenos desapropriados pela Prefeitura de Salvador para Construção de Centros Municipais de Educação Infantil - CMEI.



Qual a parte que nos cabe neste processo? O que a sociedade fez para isto? Temos ou não  influência no fazer político da cidade? Qual, de fato, é a nossa responsabilidade enquanto cidadã(o)?


            Perguntamos isto, pensando não só no trabalho que a Rede de Mulheres pelo Fortalecimento do Controle Social das Políticas Públicas vem desenvolvendo, desde 2011, quando o problema foi novamente colocado em pauta, durante trabalho de pesquisa e reuniões itinerantes nos bairros da periferia de Salvador, notadamente no subúrbio ferroviário. Mas também, pelo fato de estarmos sempre lamentando muitas outras consequências da ausência de atendimento à criança no início da sua vida, a exemplo do crescente número de crianças abandonadas nas ruas e em seus próprios lares, e a escala aritmética de vagas nas creches públicas e escala geométrica de genocídio da juventude negra, dado este evidenciado em uma das falas da Presidenta Dilma: “A raiz da desigualdade está na infância”. 


            Assim, o fato da notícia veiculada em diário oficial do município, citado acima, no nosso entendimento, aponta na direção de que, finalmente, estamos saindo do marco zero com relação a ações significativas que apontem para a resolução deste problema. Uma vez que, antes, o discurso era que Salvador não tinha terrenos para atender as orientações da política nacional, agora entretanto, foram feitas inúmeras desapropriações com previsão de mais algumas. Diante das mudanças é importante ressaltar que nossas forças estavam minadas, a maioria da sociedade calou-se com o problema da falta das creches, sendo a pressão do movimento de mulheres um instrumento importante nessa mudança de posicionamento.


Lugar de toda criança é na escola com profissionais capacitados!
            “Afinal, não sabemos bem como resolver. Quem sabe pagando uma boa creche para os filhos de quem não pode pagar é pensar na Educação das nossas crianças?” O que você acha? A noção que gestores têm do que é resposta para as necessidades de um coletivo de mulheres que precisam trabalhar, sem recursos suficientes; que correspondem a uma maioria estatística de famílias monoparentais e que em busca da sobrevivência encontram nas creches, não só proteção e sim educação, contribuindo para a garantia da cidadania de seus filhos. Quanto que para os gestores públicos é vista como mais despesa e uma forma de exclusão alienante dessas crianças, de maioria negra e pobres.    
       

              Com a continuação do nosso trabalho em Rede, voltamos às comunidades para discutir uma lei de iniciativa popular a fim de garantir o direito das crianças pequenas de serem educadas, afinal também são cidadãs desta cidade. Fomos à câmara, a destacar o apoio que temos recebido de Sílvio Humberto Passos e Hilton Coelho, vimos a “sessão” ser derrubada por manobras e estratégias do legislativo baiano. Mas, neste dia, vimos também vereadores, e até o presidente da casa legislativa se pronunciando sobre a nossa Causa. Então, saímos de lá com a certeza que aquele espaço é do “povo” e de que precisamos fiscalizar as ações das/os que estão lá para atuar em defesa das pessoas da cidade, os quais em vários momentos esquecem-se o compromisso democrático e constitucional de trabalhar por igualdade para toda(o)s.
 
            No ano de 2013 surgiram algumas iniciativas, a exemplo da recomendação de um dos vereadores para o prefeito com o “Projeto Minha Segunda Mãe”, do qual, em nossa leitura, parece ser uma transferência de responsabilidade que é do Município e/ou de reprodução de subalternidade de outra mulher, reforçando a maternagem comum nas políticas para as mulheres e não de uma política de gênero.


E o meu direito de aprender em um ambiente favorável ao meu pleno desenvolvimento enquanto pessoa?
            Outra iniciativa, foi a Ação Civil Pública proposta pela Defensoria Pública Estadual, que pedia a manutenção das creches da prefeitura e as que são conveniadas a ela, que devem continuar suas atividades no período das férias escolares. Porém não temos registro de, se e como funcionou, mas a sociedade pode considerar como algo positivo, ou seja, estamos incomodados e sendo propositivos, na direção de quem tem a obrigação de promover o bem estar público.


            Hoje temos na pauta de discussão da cidade a desapropriação de terrenos para construção de creches, sem dúvida alguma uma medida reativa a nossa demanda, mas consideramos que é necessário avançar mais e de modo mais célere, pois o quadro de matrículas, pouco mudou. Quais medidas podem contribuir de imediato para minorar o problema de crianças sem direitos a educação atendidos e famílias que sofrem com o problema, sobretudo considerando que são as mulheres o maior percentual de chefes de família na periferia.


            Por tudo isto  a Rede de Mulheres quer assumir o que lhe cabe, neste "latifúndio" que é o de reinserção do tema: Creche na agenda de discussão da cidade, como Direito da Criança e Autonomia das Mulheres. Este inclusive é um assunto do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, assim, como os órgãos governamentais e não governamentais, autarquias e a sociedade civil  podem contribuir  para efetivação das normas e diretrizes pautadas no seu texto? Nós queremos reafirmar a necessidade do equipamento creche como um direito de educação das crianças pequenas, critérios de autonomia para as mulheres e enfatizar a nossa firme resolução de continuar nossa luta para a efetivação de Políticas Públicas mais equânimes. Pretendemos fazer o possível para monitorar a implementação da política de creches a ser implementada na cidade de Salvador. “Juntas somos mais fortes”.

Autoras: Texto construído coletivamente pela Rede de Mulheres. 



Pelo direito a todas as mulheres negras e nas periferias de ter autonomia e escolha sobre a própria vida e a vida dos seus, poder estudar, trabalhar e viver dignamente. 


Vejam a lista de terrenos desapropriados conforme Diário Oficial do Município:



1. Avenida Antônio Carlos Magalhães - Pituba - Subdistrito de Brotas;



2. Rodovia BA - 528 (Estrada da Base Naval de Aratu), São Tomé de Paripe - Subdistrito de Paripe;



3. Rua do Paquistão, Pau da Lima - Subdistrito de Pirajá;



4. Avenida Santiago de Compostela, Brotas - Subdistrito de Brotas;



5. Rua Assipá, Patamares - Subdistrito de Itapuã;



6. Rua Sergio Carvalho, Federação - Subdistrito de Brotas;



7. Rua Cabaceiras, Ilha Amarela - Subdistrito de Periperi;



8. Rua Almeida Brandão, Plataforma - Subdistrito de Plataforma;



9. Rua Eurico da Costa Coutinho, Mussurunga - Subdistrito de São Cristovão;



10. Rua Doutor Jorge Costa Andrade, Águas Claras - Subdistrito de Valéria;



11. Alameda Jutahy Fonseca, Stella Maris - Subdistrito de Itapuã;



12. Alameda Praia do Flamengo, Stella Maris - Subdistrito de Itapuã;



13. Rua Deputado Paulo Jackson, Piatã - Subdistrito de Itapuã;



14. Avenida Tancredo Neves, Iguatemi - Subdistrito de São Caetano;



15.Rua da Gratidão, Bairro da Paz - Subdistrito de Itapuã;



16. Estrada do Matadouro, Cajazeira VI - Subdistrito de Valéria;



17. Rua Baixão, Luis Anselmo - Subdistrito de Brotas.