sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Carta do Movimento de Mulheres do Subúrbio e Periferia

Prezadas amigas e companheira de luta, 


Leia na íntegra a carta do Movimento de Mulheres do Subúrbio e da Periferia de Salvador  solicitando respostas em relação a sua representação na Conferência de Políticas para Mulheres em Brasília. 


Quem cala consente 

Muitas pessoas apostam na memória curta do povo para cometer atrocidades, impor seus desejos e depois apresentarem-se nos espaços representando segmentos, que não lhe autorizaram isso.

No último dia 21 de setembro de 2011, Salvador viveu momentos que devem ser refletidos, por isso estamos aqui utilizando deste instrumento para provocar reflexões esperando que muitas pessoas leiam e parem para pensar.


Em qual prática política se aprende a usar de uma fragilidade, para tumultuar? Com quem aprendemos a recrutar militantes para inviabilizar um processo e tirar proveito disso? Com quem aprendemos a destituir pessoas usando a truculência? São pequenos exemplos de” malvadeza” e perversidade política que assistimos na Conferência de Políticas para as Mulheres de Salvador.

Assim, não podemos nos calar, pois já dizia nossos antepassados: Quem cala consente. Ainda bem que nós mulheres da periferia, vivemos um momento de amadurecimento político e temos consciência que não podemos mais nos calar.

Os nossos afazeres por vezes desvia a nossa atenção, para atendimento das chamadas necessidades básicas, afinal as mulheres negras da periferia são na grande maioria das vezes as mantenedoras da família.  Hoje construindo um novo momento de  fortalecimento mútuo, estamos aqui, para mais uma vez lembrar que temos memória, publicizar os desmandos ocorridos na conferência, falar da nossa insatisfação e iniciar aqui um movimento que exige respeito e lisura nos processos onde temos a obrigação de respeitar todas as mulheres independente de crença, raça ou partido político.

Não é possível mais manter-se eternamente no poder na marra, precisamos  entender o quanto é salutar renovar idéias, pessoas e pensamento.

Depois da Conferência Municipal de Salvador, as mulheres que lutaram tão efusivamente para serem “ delegadas” estão silentes, afinal foram “vencedoras” tiveram o nome mencionado na lista, de que modo não as interessa, preparam-se para o outro momento que é a territorial, afinal a caminhada ainda vai exigir muito esforço, e a meta é chegar em Brasília, para defender os “interesses das mulheres”.

Enquanto isso, vivemos na nossa cidade a ausência de discussão sobre o modo como o organismo de política para as mulheres funciona, os equipamentos que deveriam atender as mulheres v
ítimas das mais variadas formas de violência funcionam precariamente, as mulheres das comunidades carentes  continuam morrendo vítimas da mortalidade materna e não vemos a mesma articulação que ocorreu na Conferência para resolver a questão.

Seria muito bom que utilizássemos todas as nossas forças para resolver estas questões e não usar de velhos esquemas e estratégias para mostrar que temos "Poder”, usando as mesmas armas utilizadas pelos homens, armas estas que nos nossos discursos reiteradas vezes condenamos. Que respeito queremos para nós?

Ser delegada na conferência não é para nós o ápice da questão, protestamos pelo modo como o processo de construção foi descartado e como se deu o processo de escolha das “delegadas”.

Com dificuldades construímos pela primeira vez uma Pré-Conferência no Subúrbio e outros bairros da periferia, queríamos fazer parte da construção, foi um desafio e vimos tudo isso ser jogado fora desrespeitosamente, por  cabeças que se omitiram, manipularam e prejudicaram o processo.

Naquele dia, muitas mulheres “fortes” usaram o microfone para impor suas vontades e “bateram na mesa”, em nome da ordem, diante do manifesto daquelas que se sentiam lesadas. Nós ouvimos velhas frases próprias dos métodos machistas tão condenados nos discursos das defensoras dos direitos da mulher.

Em um deles foi, “vocês tem 15 minutos para compor uma chapa, e concorrer”,  sabendo da impossibilidade disto acontecer, naquele cenário, articulado e montado para vaiar todas que não fosse a Chapa 1. A sua gana não lhe permitiu perceber que a questão não era criar uma chapa, o problema era a lisura do processo conduzido de modo equivocado e “malvado” que insistia em nos lembrar de velhos métodos que queremos esquecer.
 
Nós mulheres negras do subúrbio e periferia que participamos da Conferência Municipal de Politicas para Mulheres de Salvador nos sentimos prejudicadas, queremos mais uma vez, expressar a nossa insatisfação e dizer  que não vamos nos calar. A  nossa luta é por igualdade de direito e ela não está resumida a um momento de conferência, mas no processo excludente com que somos tratadas.

Desta forma excluídas que fomos, queremos saber quem são as entidades que irão nos representar e quem são as representantes que vão a territorial? Esperamos que a SPM/CMM e a COE, responsáveis pela condução da conferência possam dar respostas claras e publicar estas informações, afinal chega de truculência, e vamos de uma vez por todas esquecer as "Malvadezas", porque nós lutamos para isso e não podemos concordar que o passado retorne para nos atormentar, enclausurar e escravizar.

Vamos aguardar respostas porque é um direito nosso saber quem vai nos representar.

Assinam este documento

Fórum de Entidades do Subúrbio
Movimento de Mulheres do Subúrbio
Associação Renascer Mulher
Ginga Movimento de Mulheres
Grupo de Mulheres do Sankofa
Grupo de Mulheres de Valéria
Mulheres do Quilombo do Tororó 
Mulheres do Núcleo Periferia 


Nós contamos com o apoio do Movimento de Mulheres Negras e de Periferia de Salvador para que juntas possamos ter nossas perguntas respondidas. 


Muito Obrigada!! 
Rede de Mulheres pelo Fortalecimento do Controle Social das Políticas Públicas 


E vamos à luta!! 

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